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O meu primeiro retiro com AYAHUASCA

Olá meus caros. Terminei hoje o retiro a que me propus fazer. De há uns tempos para cá que a palavra Ayahuasca veio ao meu encontro várias vezes e de várias maneiras. Não pude continuar a ignorar e resolvi pesquisar a respeito. A minha intuição dizia-me que estava na altura de dar esse passo e assim prossegui. Levei 15 dias desde o dia que tomei a decisão até que encontrei o local e as pessoas adequadas para o fazer. Engraçado como aquilo que buscamos vem sempre ao nosso encontro.



Qualquer tentativa de descrever esta experiência ficará muito aquém daquilo que pude ver, cheirar, sentir, experienciar.


"qualquer conhecimento que adquiras por meio de leitura ou por alguém te conte, não é real até que o vivas".


Eu queria documentar tudo, queria filmar para vos mostrar, mas...jamais iriam retirar o que quer que fosse de tal observação. Há que o sentir para se perceber. Perdi qualquer vontade de o documentar e esta é apenas a minha forma de passar a palavra, passar o testemunho de algo que, sem qualquer risco de estar enganado digo: è algo que toda a gente deveria experimentar. Não tenho qualquer dúvida que o mundo seria um local diferente. Mas estamos todos a tempo. O trabalho individual que devemos fazer é a resposta. Sermos a mudança que queremos ver.


Sendo eu uma pessoa que perante pessoas "estranhas" adopta a postura de "quanto menos contacto fisico melhor", imaginem o meu desconforto quando todas as pessoas que pertenciam ao grupo se cumprimentavam entre elas com abraços de 10 segundos para cima. Esse desconforto rapidamente deu lugar a algo melhor. Fui "desarmado", estava vulnerável e decidi deixar-me levar. Rapidamente me apercebi que teria que deixar todas e quaisquer crenças para trás. Despir-me de todo o conceito e experienciar.


Tive 2 tomas de ayahuaca. Uma na sexta, outra no sábado. Todas são feitas após o sol se por e têm uma duração de 5 a 9 horas.


Ayahuasca é uma planta medicinal que nos é dada pela mãe natureza. Ela, quando bem usada, tem poderes curativos e faz-nos ver por dentro de nós mesmos, todo e qualquer pensamento, experiência, que tenhamos tido e que teve um impacto negativo em nós. Também nos mostra muitas outras coisas. Mostra-nos o que precisamos ver em ordem de o poder ultrapassar, de aceitar e de largar. Para que não repitamos comportamentos padrão que têm por base crenças falsas ou experiências traumáticas.


A planta nem sempre age da mesma forma. Pelo que percebi, até foi muito gentil comigo, talvez por achar que ainda não estava preparado para levar com a verdade pura e dura. Então, pelo que percebi, fui apenas "preparado" por ela para uma eventual toma futura. A verdade é que em ambas as viagens eu saí deste mundo e foi me dado a conhecer tanta coisa boa. Não me quero aprofundar muito nesta parte pois além de ter um cariz muito pessoal, corro o risco de descrever uma formiga quando tento falar de um elefante.


Após a primeira toma, esperei 1 hora e ja pensava para mim " isto não me fez absolutamente nada".

Sento-me, ainda com a venda colocada e de repente....sinto a planta inteira apoderar-se do meu corpo e a romper-me por dentro com força e dá-me uma tremenda vontade de vomitar. Foi a sua forma de dizer: "estou aqui, estás pronto?"


Definitivamente não estava, quando me apercebi que não estava mais no meu controlo, quis "sair". Não quero jogar a isto. Como faço para voltar atrás? Já não era possível, aguenta.

Deitei-me e esse susto começou a dar lugar a outras sensações. De repente começo a ouvir a musica com uma qualidade que me fez pensar para mim mesmo: "tenho que perguntar ao rapaz que sistema de som é este que isto é qualquer coisa de especial". Na verdade não era, mas eu ouvia a musica com tanta qualidade que me sentia dentro dela. Estava na minha cabeça e era agradável. Acabei por me ver a derreter, e isso fazia me rir. Dissolvi-me e não era mais um corpo, não era nada, apenas consciência. Eu pertencia à musica, à natureza, ao colchão onde estava deitado, éramos todos UM. Não havia divisões. Tudo comunicava comigo e estávamos todos felizes. Que sensação libertadora, conseguem imaginar?


Senti pela primeira vez na minha vida o que é amor incondicional por várias pessoas que passaram e estão na minha vida. Esse amor não tinha nada que ver com juízos de valor, nao tinha que ver com imperfeições, ou atitudes que tenham tido connosco. Nada disso. Era uma sensação maravilhosa de amar sem condições, apenas por fazer parte da nossa vida, ou somente por existir. Conseguia ver os seus corpos e as suas almas.

Consegui ver a minha vida até então, como um filme, em que via a parte dos créditos e apareciam os "actores" que fizeram parte do filme da minha vida e que não eram mais que as pessoas que conheço ou conheci e estavam todos a sorrir, como que se tivessem feito a sua parte já. Pude conectar-me com a minha mãe, pude apreciar tudo de uma forma completamente distinta daquilo que é o meu padrão comum de apreciar. E isto durou-me a noite toda.

Eventualmente ja com o efeito da planta a passar, resolvi sair a rua. E não é que as estrelas vieram todas ver-me? Eram o meu público, começaram a aparecer todas, cada vez com mais intensidade. Acenei para elas para agradecer terem vindo. Olhei para a minha mão e estava sem duvida com um formato diferente. Deitei-me então no chão ao pé de uma cama de rede, que na verdade era uma espécie de TRX para fazer yoga, desculpem me a ignorância mas como não sei como se chama, vou lhe chamar cama de rede. E sabem que mais, começou a fazer movimentos como se fosse um lutador. "quieres pelear" perguntei.lhe eu. Não obtive resposta, mas parou com os movimentos.


Fora algumas imagens e alucinações malucas que me fizeram rir muito, percebi sem sombra de dúvida o que a planta me queria mostrar. E essa sensação boa vou levar comigo para sempre.


Há tanto que não sabemos meus caros, e neste caso não acho mesmo que ignorância seja uma benção. Fiquei com uma vontade enorme de fazer a diferença ou criar um impacto positivo neste mundo, cabe-me a mim descobrir agora como e estou certo que tenho novas ferramentas para poder ser melhor enquanto cidadão, enquanto ser humano.



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