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DO PIANO PARA O BANCO DE SUPINO



Desde pequeno que o desporto esteve presente na minha vida. Comecei por ser jogador de futebol. Na altura dividia a paixão do futebol com a música ( tocava piano). Não gostava de ler partituras, na verdade detestava e quase nunca fazia os trabalhos de casa. Na verdade, como era bom de ouvido, eu decorava a musica e acabava por aprender a tocá-la dessa forma. Sem partitura, apenas de ouvido. E lá me fui safando dessa forma.

Não era um aluno perfeito, mas dei um jeito de terminar os 9 anos de estudo da música. A ultima memória que tenho desse tempo foi ter uma audição por volta das 21 horas. A escola enchia o auditório de pessoas para nós (alunos) podermos mostrar os nossos dotes e as peças que preparamos ao longo do ano lectivo. Lembro-me de sentir algo estranho e não querer estar ali. Toquei, contrariado. Sem vontade, mas toquei. Depois de sair do auditório fiquei a saber que a minha mãe ( que estava no hospital) tinha tido um segundo AVC, justamente enquanto eu tocava. Se a minha memória não me falha, não fiquei muito mais tempo nessa escola.


A dada altura a paixão pelo futebol falou mais alto e eu passei a dedicar toda a minha atenção e energia a isso. Tive jogos bons, muito bons e ruins. Mas a paixão pelo jogo em si, estava sempre lá. De cada vez que o ego subia um pouco, havia algo que me fazia descer à terra. A dada altura sofri uma lesão, que me viria a afastar dos campos. Foi frustrante. Eu tentava voltar ao treino, minimizando a dor na minha cabeça, mas o cenário era relativamente grave e lá ficava eu sem me conseguir levantar ou mexer o joelho. Durante esse tempo acabei por ter que encontrar algo que eu pudesse fazer que envolvesse actividade física sem me colocar em risco. E o ginásio "apareceu". Poderíamos invocar aqui a célebre frase que conhecemos " há males que vêm por bem" que faria total justiça à forma como olho para trás.


O ginásio deu-me a conhecer um mundo totalmente diferente. Esculpir o corpo, torná-lo forte. Era possivel! Como uma armadura que me poderia proteger de futura dor. Tal iria exigir disciplina da minha parte. A disciplina que não tinha no estudo das partituras foi todo para esse estilo de vida que agora era novo e entusiasmante. Então, estudei tudo o que podia estudar. Estudei e testei tudo o que poderia sobre treino, como se da minha vida se tratasse. Afinal havia uma parte de mim que acreditava genuinamente que com essa armadura eu evitaria dor! Essa crença serviu de sustento para toda a energia despendida na tarefa.


E que bonito foi.


Essa armadura não evitou a dor, claro está. Não me trouxe felicidade. Nem mudou drasticamente a minha vida como eu pensei. Mas colocou-me no caminho da descoberta. Ensinou-me muito.


A dada altura percebi que o corpo, de forma isolada, não nos serve de muito. Há uma mente que não se cala e um espirito que nos rege. Eu não sabia, mas cada pedaço dessa armadura que ia construindo me aproximava mais dessa verdade. Que uma vida que vale a pena inclui nós cuidarmos do nosso corpo, cuidarmos da nossa mente e cuidarmos da nossa alma.


T3



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